Muitos casais que adoptaram uma criança vivem atormentados com medo da forma como o filho vai reagir quando souber que não pertence geneticamente àquela família.
Para ajudar esses pais a prepararem-se para o “momento da verdade” o pedopsiquiatra e psicoterapeuta João Hipólito responde às perguntas mais frequentes.
Qual a idade certa para dizer à criança que é adoptada?
JH – Não há uma idade certa, visto que depende das situações. Uma criança que é adoptada numa idade e numaçãolhe permite compreender o que se está a passar, deve ser posta imediatamente ao corrente do que se está a passar, do seu significado presente e futuro e suas implicações.
Nos outros casostambém a verdade deve ser sempre dita desde o princípio, tendo em consideração que se por um lado a criança pode não perceber exactamente o que lhe estão a dizer, ou mesmo fingir que não ouve ou mesmo não compreender, guardará sempre a noção que os pais nunca lhe mentiram, no momento em que essa compreensão lhe for possível.
Como dizer?
JH – Infelizmente não há receitas universais, e cada casal, ou mãe ou pai deve encontrar a maneira e as palavras que para eles também fazem sentido e são possíveis. Essas palavras passam pelo amor pela criança, pelo desejo por ela mas também pelo enriquecimento que ela lhe trouxe, pela expressão desse acto em que se ambos as partes dão e recebem embora na grande maioria das vezes, pelo menos num primeiro tempo, a criança “limita-se” a submeter-se à nova situação. Mas sobretudo não mentir com medo do futuro ou das reacções futuras da criança.
Quais as consequências de esconder esse facto e a criança vir a descobrir mais tarde por outras pessoas?
JH – Geralmente introduz uma tensão, a desconfiança uma fractura na relação, embora por vezes as crianças possam ultrapassar a situação de maneira inesperada, dizendo mesmo aos pais que já o sabiam ou intuíam há mais ou menos tempo e que isso não põe em causa o seu amor por eles.
É extremamente penoso para um adolescente ou adulto saber por terceiros, ou por “acidente”afinal os seus pais não são aqueles que sempre se apresentaram como tal.
O interesse eventual pelos pais biológicos, que se compreende poder sempre existir, pode nessas condições se exacerbar em situações de tensão familiar e levar mesmo a fugas ou outros comportamentos disruptivos.
Fonte: revista “Sexto Sentido”.
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